sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A Tartaruga e o Gavião


Contam que, nos tempos primitivos, uma tartaruga matara um gavião, que deixou mulher e um filho pequeno. Sempre que o filho ia caçar camaleões, achava penas de pássaros. Chegando em casa perguntou à sua mãe:
- De quem são as penas que acho sempre no mato, quando vou caçar?
- Meu filho, são de teu pai, que morreu.
Calou-se ele e concentrou-se. Cresceu e estava quase moço.
Um dia foi caçar e encontrou umas tartaruguinhas. Estas disseram-lhe:
- Vamos nos banhar?
Ele disse:
- Vamos.
Dizem que se banharam e no banho, ele queria pegá-las com as unhas. Então elas disseram-lhe:
- Por isso minha avó matou teu pai.
– Agora sei quem verdadeiramente matou meu pai.
Cresceu e, quando já grande disse:
- Vou experimentar minhas forças.
Dizem que experimentou-as no grelo do meriti. Chegou e meteu as unhas para o arrancar. Experimentou, puxou e não o arrancou. Disse:
- Não tenho ainda forças.
Foi outra vez experimentá-las. Então arrancou o grelo e disse:
- Agora já tenho força. Agora vou deveras vingar meu defunto pai. Esperarei a saída da avó das tartarugas.
Dizem que um dia, aquela espalhou paracá em cima de uma esteira. Houve depois chuva com vento, e ela disse às netas:
- Vocês vão ajuntar para recolher da chuva o paracá.
As tartaruguinhas não foram, por ser aquele pesado, e por isso chamaram:
- Minha avó, venha ajudar-nos.
A avó subiu e foi ajudar as netas.
O gavião estava vigiando e, vendo-a sair, saltou-lhe em cima e a carregou para um galho de piquiá.
Então a velha tartaruga disse ao gavião:
- Como vou morrer agora, manda chamar teus parentes para que venham me ver morrer.
Vieram, então, todos os parentes do gavião. Chegaram todos os pássaros e ajudaram a matar a velha tartaruga. Os pássaros que a mataram ficaram sarapintados. Outros ficaram vermelhos. Aqueles que beliscaram o casco ficaram com o bico preto; outros que beliscaram o fígado ficaram verdes.
Assim acabaram as tartarugas assassinas; assim se acabaram.
Desde então os pássaros ficaram pintados.

Fontes:
Barbosa Rodrigues. Revista Selva. Rio de Janeiro, nº 1, setembro de 1946. In MELO, Anísio (org.). Estórias e lendas da Amazônia. São Paulo, Livraria Literat Editora, 1962. Antologia ilustrada do folclore brasileiro. Disponível em Jangada Brasil.

http://singrandohorizontes.blogspot.com

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