O riso é a mais fina e eloqüente expressão do espírito. Fala todas as línguas e traduz os sentimentos mais nobres e íntimos. Serve a todas as ocasiões e circunstâncias. Para confirmara verdade. para encobrir uma situação difícil. Para esconder uma mágoa profunda ou revelar uma grande afeição.
Há o riso nervoso, que é a contração dos lábios, que se preparam para a tempestade dos palavrões ou dos dentes, que querem morder. Há o riso escarninho, que mal aflora aos lábios, como serpe que se enrosca, em sarças espessas, para melhor desfechar o golpe. Há o riso de complacência e ternura, que é corola entreaberta, despetalando perfume e encanto. Há o riso, espalhafatoso, tonitruante, de esgares descomedidos, que se avizinha dos guinchos animalescos.
Nada mais sublime que o riso. Nada mais perverso, também. É aristocrático, de puro sangue. É plebeu, vulgar, como bafio de balcão de feira. É espiritual como o adejar das asas de um pássaro, que mal fere a plumagem do ar. É material e brutal como a lama dos charcos.
Nos lábios da criança é um poema de inocência. Nos lábios do moribundo é uma prece de saudade. Nos lábios da juventude é sonho, idílio, amor e esperança. O riso dos velhos é tristeza, evocação e lágrima. Nos lábios de uma mãe é bálsamo. Nos lábios do hipócrita é punhal. Nos lábios do malfeitor é veneno.
Com um riso construímos um mundo de afetos e podemos também destruir amizades sólidas. Com o riso conquistamos a simpatia das crianças, enfloramos de esperanças o leito dos moribundos, domamos a fereza dos próprios irrracionais.
Linguagem da alma e do coração, o riso diz mais que todas as línguas humanas e melhor que todos os poemas literários. Saber rir é arte. Não há galanteria mais refinada, charme mais perfeito de educação, doçura mais encantadora que este leve encrespar dos lábios, que fotografa todas as nuanças e matizes do espírito, e carimba na alma da gente, as matrizes de uma afeição e de uma lembrança, que valem uma eternidade de bonança e felicidade.
Padre Vieira
escritor de Várzea Alegre Ceará
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