segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

LUCAS 14 - Requisito para servir


Sem ser notado pelo meu pai, no escuro da linha do trem, em meio a dezenas de pessoas que haviam desembarcado e seguiam a pé, da estação para suas casas-dormitórios, fui ultrapassado pelas largas passadas dele. A timidez de ser visto pelo meu pai, portando a tiracolo a caixa de picolé, fez com que eu silenciasse na sua passagem. Favoreci, assim, seu afastamento já bem à frente, solitário, no escuro da estrada de ferro. Eu tinha 11 anos de idade; ele, 41. Certamente nossos sonhos e pensamentos distavam entre si tanto quanto nossas passadas rumo ao lar comum - à Rua Alcides Queirós, 271. Se hoje, ele pudesse dar meia-volta, na linha do trem em Morro Agudo, e me perguntasse, eu lhe diria meus sonhos! ``- Por que, filho, você trabalha tão criança? Já não te dou cama, mesa e banho?'' - Diria meu pai. ``- Sim, mas trabalho por um sonho de vida. Meu sonho inclui não só cama, mesa e banho; mas, um jardim. Eu não tenho forças para gramar nosso quintal sozinho e plantar nele um jardim. Por isso trabalho para pagar um jardineiro, comprar a grama, as flores e instalar a água que regará o jardim da mamãe. Ela ama jardins e eu quero ajudá-la. Sonho que nosso quintal será um jardim bem florido e verdinho!'' - Eu diria exatamente isso ao Seu Antônio, o meu pai que está no Céu - com jardim e tudo!

ELYAS MEDEIROS

http://domundointerior.blogspot.com

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