sábado, 8 de janeiro de 2011

Quebra-cabeça


De novo. Eu e meus pensamentos. Na escola, meu professor de filosofia dizia que eu bem fazia jus ao nome: Clarice. “Você pensa tanto quanto sua xará, a Lispector.” Naquela época, eu pouco conhecia Clarice, mas hoje concordo com Francis. Nome de pensador também. Os meninos da escola se divertiam com isso, diziam que era nome de mulher. Coisa de adolescente bobo. Fato universal: meninas amadurecem bem mais cedo que meninos. Eu amadureci. Na verdade, às vezes me pergunto se já não nasci pensante. Vez em quando, pego minhas primeiras redações e me deparo, mesmo que na linguagem infantil da época, com profundas reflexões existenciais.

Aos oito anos, eu já tinha esperanças de mudar o mundo. Hoje, essa expectativa não existe mais. Entendi que, cedo ou tarde, o mundo se encontra, ainda que do jeito dele. Pura teoria de Gaya. O x da questão está nas pessoas. Elas bagunçam tanto o pobre do mundo, que ele tem crises absurdas de identidade. Está surtando, mas eu ainda acho que ele se encontra. Acho mesmo que este é o sentido da vida: encontrar um lugar no mundo, o encaixe perfeito, como uma peça de quebra-cabeça, ainda que isso demore e signifique muitas tentativas frustradas. Enquanto isso, tudo vai girando. O mundo não pára para a gente descer, nem espera que encontremos um bom assento. Às vezes, vem a mão de Deus e dá uma forcinha, coloca a gente no lugar exato, mas o grande teste consiste em identificarmos as pistas e encontrarmos nós mesmos a ilha perdida.

Ainda estou colhendo meus sinais. São muitos e o caminho parece longo. Quer saber? Não me importo. Tenho gosto pelo desafio. Olha só: agora mesmo acabou de surgir uma pista! É exatamente assim que elas aparecem: no destino disfarçado de cotidiano. O mais saboroso é tentar desvendá-lo, entender suas charadas e surpreendê-lo, fazendo de conta que caiu na sua conversa de que “hoje é só mais um dia comum”. Lá na frente, a gente mostra pra ele que o seguimos, por gosto e convicção, por sabermos que, por mais tolas que as coisas aparentem ser, elas podem nos encaixar perfeitamente neste quebra-cabeça chamado vida.

ARIADNE LIMA

http://jornalisticamenteincorreto.blogspot.com/

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